terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A crise da Igreja atual é acima de tudo, uma crise da liturgia

Permitir a Missa Antiga em latim é apenas "um primeiro passo", segundo o Cardeal Kurt Koch (foto), membro da Cúria Romana. 
A época atual ainda não está madura para os próximos passos, disse Koch. Questões litúrgicas são ofuscadas pela ideologia, especialmente na Alemanha. Roma só será capaz dar novos passos quando os católicos se mostrarem mais dispostos a pensar sobre uma nova reforma litúrgica "para o bem da Igreja." 
O Cardeal falou em uma conferência sobre a teologia de Joseph Ratzinger, que também analisou o pontificado Ratzinger como Papa Bento XVI. Em julho de 2007 o Papa Bento XVI decretou que as Missas do Rito Tridentino segundo o Missal de 1962 podem novamente ser celebradas no mundo inteiro. O Missal de 1970, no entanto, é ainda a "forma normal" da Celebração Eucarística na Igreja Romana. 
Koch é o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Ele procurou refutar a acusação de que o Papa Bento XVI está indo contra o Concílio [Vaticano II] em assuntos litúrgicos: "o Papa sofre com esta acusação". Pelo contrário, a intenção do Santo Padre é implementar os ensinamentos conciliares sobre a liturgia que têm sido ignorados até agora. 
A prática litúrgica dos dias atuais nem sempre tem qualquer fundamento real no Concílio.  Por exemplo, celebrar versus populum [de frente para os fiéis] nunca foi ordenado pelo Conselho, diz o Cardeal. A renovação da forma de adoração divina é necessária para a renovação interior da Igreja: "Como a crise da Igreja atual é acima de tudo, uma crise da Liturgia, é necessário começar a renovação da Igreja de hoje com uma renovação da Liturgia
tradução, [comentários] e negrito Missa aos domingos
Essas declarações estão recolhidas na reportagem da Radio Vaticana sobre Congresso teológico realizado no último sábado, 28 de janeiro, na Alemanha (fonte: Rorate Caeli).

Temos que começar a renovação da Igreja de hoje com uma renovação da Liturgia. Alguma ideia sobre o que poderia ser renovado na sua paróquia? Procurei postar várias aqui no blog. Sugestões são bem-vindas!

Não aceite imitações, exija as legítimas!

Dom Columba Marmion, abade beneditino irlandês 
Por essas poucas linhas abaixo dá para se ver o que é, ou o que deve ser, uma Missa e um sacerdote. Esse é o gabarito, o resto é imitação.
A Missa e o Sacerdócio
O sacerdote é elevado a uma dignidade que é, em certo sentido, divina, pois Jesus Cristo identifica-se com ele. Seu papel como mediador é a mais alta vocação neste mundo. Vale a pena repetir: se um padre não fez nada mais durante toda sua vida do que oferecer o Santo Sacrifício piedosamente todas as manhãs, ou mesmo se ele o tivesse oferecido apenas uma vez, ele teria feito algo maior na hierarquia de valores do que esses acontecimentos que revolucionam o mundo. Pois o efeito de cada Missa vai durar eternamente e nada é eterno a não ser o divino.
Devemos orientar toda o dia para a Missa. É o ponto central e o sol do dia. É, como sempre foi, o foco de onde nos vem luz, fervor, luz e alegria sobrenatural.
Devemos ter esperança de que, pouco a pouco, o nosso sacerdócio possa se apossar da nossa alma e da nossa vida, de forma que se possa dizer de nós: "ele é sempre um sacerdote." Este é o efeito de uma vida Eucarística, impregnada do perfume do sacrifício que nos faz um alter Christus, um outro Cristo.
Dom Columba Marmion, conferência aos sacerdotes sobre a Santa Missa
fonte: Vultus Christitradução e negrito de Missa aos domingos
E convém dar um passinho mais: partindo desse gabarito, qual deve ser nossa atitude ao assistir a Missa?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Catholic Fashion Week

Mitra episcopal - modelo "Rendam-se terráqueos"
Como tudo o que diz respeito à Missa, as vestes litúrgicas devem inspirar piedade e devoção. Sabemos que nem sempre é assim. Existe até um blog especializado em escolhas infelizes (para dizer o mínimo), de onde tirei a foto acima: Bad Vestments.

Além da clássica rifa para a reforma do salão paroquial, os párocos poderiam também pedir fundos para adquirir vestes litúrgicas bonitas. Tenho certeza que a resposta seria bem generosa.

No ano passado visitei o Museu de Arte Sacra de São Paulo, que vale a pena conhecer, e lá havia uma belíssima exposição de vestes sagradas. Uma das organizadoras da exposição era uma empresa que fabrica e vende paramentos litúrgicos (achei o link no google e a propaganda é gratuita...). Não tenho a mínima ideia de custo, sequer conheço os produtos da empresa, mas fica aqui meu incentivo.

Para contrabalançar a foto de abertura, registro o outro extremo do capricho com as vestes litúrgicas:
Dom Antonio Carlos R. Keller, titular do blog Encontro com o Bispo

domingo, 29 de janeiro de 2012

Missa com classificação etária?


Alguns meses atrás, meu filho me confrontou na saída da igreja: "você fala prá eu não dizer, mas o padre falou 'saco' na Missa". Como as crianças pequenas têm dificuldade de entender contradições, tentei lhe dar uma explicação simples.

Calhou de que eu só voltasse hoje àquela igreja e o padre falou 'puta' no sermão. Felizmente meu filho não estava. Sua confiança nos ensinamentos paternos teria descido a um nível preocupante.

O sermão foi sobre a família cristã, com um conteúdo moral claro e prático e um enfoque vibrante e corajoso, mesmo nos tópicos em que alguns ficariam em cima do muro. Precisava ter sido "impróprio para menores"?

As pessoas, especialmente as mais simples e sábias, vêem na linguagem um reflexo do que se leva no coração. Tudo bem, não vamos avaliar o padre pelo vocabulário quando seu time toma um gol nos acréscimos da final do campeonato. Mas na Missa a conversa é outra.

Os fiéis vão, com razão, imaginar que o padre também usa esse tipo de linguajar com Deus e talvez não se sintam motivados a seguir o modelo. Ou vão considerar que a mesma finura será usada no aconselhamento espiritual e se sintam movidos a buscar outro mestre com quem se dirigir.

Antevejo os protestos: "que visão elitista, puritana e farisaica! O povo tem é que sentir que o padre é igual a eles, gente como a gente!". Aos indignados, peço duas ponderações.

Primeiro, não depreciemos o povo. Na missa de hoje, a assistência era de classe cultural e social alta. Vamos discriminar os de classe baixa oferecendo um vocabulário ordinário?

Segundo, não concordo com essa visão cínica sobre os anseios do povo. Parafraseando o finado Joãosinho Trinta: "povo gosta é de padre santo, asceta e piedoso, quem gosta de padre .......... (preencha a seu gosto) é intelectual".

URGENTE: Estamos passando por uma profunda crise de fé

Como sabemos, em vastas áreas do mundo, a fé corre o perigo de se apagar como uma chama que não encontra mais sustento. Estamos passando por uma profunda crise de fé, por uma perda do sentido religioso que constitui o maior desafio da Igreja de hoje. A renovação da fé, portanto, deve ser em nossos dias a tarefa prioritária de toda a Igreja. (tradução e negrito Missa aos domingos)
Papa Bento XVI, Discurso à Congregação para a Doutrina da Fé, há 2 dias.
 Tudo o que deseja o Papa para a Igreja depende também da oração de cada um de nós. Procuremos assistir com devoção à Missa desse domingo, com renovado empenho em rezar por suas intenções e em pedir pela superação da profunda crise de fé e da perda do sentido religioso.

O silêncio que todos escutam

A agonia no horto, Bellini, 1465
Já postei sobre esse tema: O demônio ama o ruído, Cristo busca o silêncio. O Papa em sua mensagem de 24 de janeiro para o dia das Comunicações Sociais, volta a falar do silêncio (negritos e comentários meus):
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento.(... ) É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. (...) Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons [sem dúvida isso se aplica diretamente às Missas: cânticos, palmas, falas supérfluas: ver aqui e aqui]. (...)
Na sua essencialidade, breves mensagens - muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico - podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade
[o tema dos sermões longos é recorrente nesse blog, p. ex. aqui e aqui] Não há que se surpreender se nas diversas tradições religiosas a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. (...) No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo - quando «o Rei dorme (...), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cf. Ofício de Leitura, de Sábado Santo) -, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade.
Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora».
Leia a íntegra da mensagem do Papa aqui.

Como certas realidade se captam mais por contraste, não resisto a reutilizar a antológica cena de "Os Irmãos Cara de Pau":

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Conversão: a de São Paulo e a nossa

Conversão de São Paulo, Caravaggio
Trecho de outra excelente meditação de Dom Mark Kirby, do site Vultus Christi (Face de Cristo):

A Presença de São Paulo

Por que São Paulo, mesmo após dois mil anos, tem tanta influência sobre os corações e as mentes em toda cultura e nação? Por que São Paulo continua a falar de modo persuasivo a cada homem e a cada mulher? Por que a vida de Santo Agostinho se transformou de forma tão dramática e gloriosa, quando ele pegou um livro e, abrindo-o, deu com a Epístola de São Paulo aos Romanos? Por que a Regra de São Bento se entrelaça com a paixão de Paulo pelo amor de Cristo? Por que, mesmo nos conflitos que põem crente contra crente, São Paulo permaneceu, em ambos os lados do conflito, a medida do que significa pertencer a Cristo? Por que, no século passado São Paulo capturou de tal forma o pensamento de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, doutora da Igreja; do Abade beneditino, o Bem Aventurado Columba Marmion; da jovem carmelita, Bem Aventurada Elisabeth da Trindade que se é obrigado a concluir que sem uma imersão em suas epístolas não pode haver uma conversão duradoura das almas para Cristo, nem um misticismo autenticamente cristão?

A mim, o mais insignificante dentre todos os santos, coube-me a graça de anunciar entre os pagãos a inexplorável riqueza de Cristo. (Efésios 3:8)

Paulo me dá Cristo

Comecei a ler São Paulo quando garoto, isolando-me nas manhãs tranquilas no desvão entre minha cama e a parede, e indo de descoberta em descoberta no Novo Testamento que meu pai me deu e que ainda conservo como um tesouro. Após mais de cinquenta anos eu ainda estou lendo São Paulo em qualquer momento tranquilo que encontro. Por quê? Porque São Paulo me dá Cristo. Porque São Paulo coloca minha alma em Cristo e Cristo na minha alma. Porque São Paulo, uma vez convertido na estrada de Damasco, nunca deixou de converter outros a Cristo Jesus na esteira de sua própria experiência e porque eu preciso, e quero, e me comprometi a uma vida de conversão.

Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.(Gálatas 2:20)

tradução Missa aos Domingos

Onde está o Sacrário?

Bento XVI reza na Capela do Santíssimo do Mosteiro de São Bento (SP), 2007


Jesus está na Eucaristia em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Deus está fisicamente presente nos sacrários das nossas igrejas. Nada mais natural que seja o centro das atenções, seria estranho o contrário.

Várias igrejas têm uma Capela do Santíssimo, como na foto que vemos acima. Quando não há, o sacrário deveria ficar no centro do altar ou do retábulo ou num local de máximo destaque. Em alguns casos, dá pena ver que fica numa lateral, num local secundário, até mesmo difícil de se localizar.

Volto ao tema do post anterior: que os locais de culto sejam dignos e belos. Em primeiro lugar o sacrário. As maiores honras para o dono da casa. Isso convida os fiéis a rezar e a adorar o Santíssimo Sacramento.

Um detalhe para finalizar: como orientação para o povo fiel, não se pode esquecer da luzinha vermelha que sinaliza a presença de Jesus Eucarístico.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Da água para o vinho




As donas de casa querem de tempos em tempos renovar a decoração, os móveis, a pintura para que a casa esteja sempre com a melhor aparência possível. O mesmo deve ocorrer com as igrejas. As fotos acima mostram o antes e o depois de uma reforma. Nem parece a mesma igreja! Qual das duas formas você acha que inspira mais os fiéis à oração? 

Talvez nossa paróquia tenha a mesma aparência há décadas. De fato, nem é propriamente a mesma, pois com o tempo a aparência vai se deteriorando. E acabamos nos acostumando a isso.

Nas paróquias são frequentes as iniciativas para construir, reformar ou ampliar algo: salão paroquial, ar condicionado, telhado, etc. Por certo são iniciativas necessárias, mas não devemos nos esquecer do principal, do dono da casa. Não caberia que o altar, o retábulo ou outros elementos do interior da igreja que estão diretamente ligados ao culto ficassem mais belos e dignos?

Não estou me referindo a mudar pelo simples afã de novidade. Menos ainda a reformas mal orientadas que querem substituir o "antigo",  piedoso, com valor histórico e afetivo, pelo "moderno" de gosto duvidoso. As fotos acima mostram bem o que quero dizer. Nas próximas semanas postarei outros exemplos que possam nos servir de inspiração.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Brasil na imprensa (católica) internacional


Ninguém é bom juiz em causa própria. Os olhos de fora podem enxergar peculiaridades nossas (boas ou más) que não percebemos, às quais nos acostumamos.

O blog sobre religião mais lido na Espanha é La cigüeña de la torre. E o Brasil deu o ar da graça lá na semana passada: Más aberraciones litúrgicas. Vale a pena conferir. Faz referência a uma notícia publicada no Fratres in Unum.

Brasil-il-il...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Aviso aos navegantes: de 6 a 8 minutos para dar seu recado


Boa matéria do site Catholic News Service (tradução e grifos meus):

Por oito dias na Loyola University em New Orleans, três padres e cinco diáconos absorveram a matemática fria e a simetria interna da boa pregação.
Assim como Moisés desceu do Monte Sinai com os Dez Mandamentos lavrados em duas tábuas de pedra, as regras estabelecidas pelo Padre Roy Shelly e por Deborah Wilhelm da Diocese de Monterey, na Califórnia, embora não gravadas na pedra, são fronteiras dignas de respeito: seis a oito minutos para uma homilia de domingo, três a cinco minutos para um sermão durante a semana.
(...)
Melhoria da qualidade e profundidade espiritual da pregação tem sido uma paixão para o Padre Shelly, que é diretor de vocações e supervisiona a formação homilética para o diaconado permanente em sua diocese.
(...)
"A Fundação Pew pesquisou porque jovens adultos estão deixando a igreja e a primeira razão que o estudo apontou foi a pregação pobre," disse.
(...)
Ao longo de uma semana, três padres da Arquidiocese de Nova Orleans - Chris DeLerno, Kevin Martin e DeLerno Smullen - juntaram-se a cinco diáconos e cada um preparou duas homilias, que foram filmadas e depois criticadas pelo grupo.
Preparação espiritual é fundamental e a metodologia empregada envolve "lectio divina" - ler, refletir e rezar sobre a passagem bíblica.
"O Arcebispo Fulton Sheen disse: 'Se você quiser que eu fale por uma hora, estou pronto. Se você quiser que eu fale por 10 minutos, eu vou precisar de uma semana", citou Padre Shelly. "Este é um processo muito estudado. Encorajamos as pessoas a se concentrar em uma idéia e também a levar em conta que não será a única vez na vida que os ouvintes vão ter esse texto comentado. A pior coisa é tentar dizer tudo. Concentre-se em uma idéia. "
Na formação dos pregadores, Padre Shelly pede-lhes que escrevam uma frase que resuma a homilia que vão pregar. Depois os ouvintes são convidados a escrever em uma frase o tema da homilia que acabaram de ouvir.
(...)
Wilhelm disse que um pregador eficaz é ,"em primeiro lugar, um ouvinte da palavra de Deus. É presunçoso pregar a palavra de Deus ao povo de Deus sem ouvir a palavra de Deus em primeiro lugar. E, segundo, todos podem melhorar. Nós nunca estaremos completamente desenvolvidos como pregadores."
(...)
Padre Smullen disse que muitas vezes os pregadores esquecem o valor do silêncio como uma ferramenta ao ensinar a palavra de Deus.
"Nós só podemos ver a eloqüência da palavra de Deus, sua mansidão e sua humildade quando estamos tranquilos", disse. "Jesus escolhe ficar em silêncio para nos permitir experimentar a sua presença silenciosa, não para experimentar seus comandos ou suas advertências."

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Deixados para morrer, emergiram das sombras

"São Sebastião cuidado por Santa Irene"
Meditação do dia de São Sebastião de Dom Mark Kirby,  do site Vultus Christi (Face de Cristo):

Deixados para morrer
Há sofrimentos mortais dos quais não se espera que os seres humanos se recuperem. Há torturadores da alma que deixam suas vítimas para morrer, certos de que não irão recuperar suas forças e reviver. Há pessoas que, tendo sofrido as agressões cruéis dos malfeitores, surpreendem aqueles que os conhecem, por continuar a viver e dar testemunho do amor de Cristo.
São Sebastião, Mártir
Penso hoje no soldado cristão São Sebastião, condenado à morte por confortar cristãos perseguidos; atado a uma árvore, crivado de flechas e deixado para morrer. E estou pensando em Santa Irene, esposa de São Castulo, que buscou São Sebastião e lavou suas feridas, aplicando bálsamos e medicamentos, até que ele recuperou as forças e foi à presença de Diocleciano para dar testemunho de Cristo.
A criança objeto de abuso sexual
Penso hoje na criança objeto de abuso sexual. Tendo sua inocência roubada; tendo que suportar um turbilhão de emoções impossíveis de serem decifradas; tendo perdido todo o sentido de segurança e proteção; e presa a um silêncio carregado de medo, são pequenas as chances de que essa criança chegue a emergir das sombras e a viver plenamente a vida a que estava destinada a viver.
A esposa espancada
Penso hoje na mulher que, depois de ter se entregado a um homem em casamento, descobre que ele é dominado por uma fúria incontrolável. Ela sofre violência nas mãos do homem que se comprometeu a acolhê-la com carinho e protegê-la. São pequenas as chances de que essa mulher chegue a emergir das sombras e a recuperar a capacidade de amar novamente e de confiar.
O Sacerdote não perdoado
Estou pensando hoje no homem, no sacerdote, que, depois de ter empenhado sua vida, suas energias e tudo o mais na Igreja, Corpo e Esposa de Cristo, vê-se acusado de uma fraqueza, de um pecado ou de um crime e, em seguida, completamente abandonado, deixado de lado e declarado intocável por aqueles que professam estar a serviço do Salvador chio de misericórdia. São pequenas as chances de que esse sacerdote chegue a emergir das sombras e a encontrar arrependimento, cura e reconciliação no coração da Igreja.
Mas eles não morrem
Estes são apenas três exemplos das inúmeras violências, mortais para alma, das quais os agressores se afastam, deixando suas vítimas para morrer. Mas as vítimas não morrem. Elas sofrem. Elas sangram. Suas feridas infeccionam e até gangrenam, mas elas não morrem.
Santa Irene, a que cuidou
De alguma forma essas vítimas - muitas vezes pelos cuidados de alguém mortalmente ferido como elas próprias, mas que voltou à vida, vida em abundância - podem se recuperar e às vezes efetivamente se recuperam e, em certo sentido, voltam da morte. Alguém pára para cuidar de suas feridas, desinfetá-las e atá-las. "Um samaritano," diz o Senhor, "que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele."Lucas 10:33-34
Na Luz
São Sebastião é símbolo de alma deixada para morrer, mas trazida de volta à vida para dar a Cristo o seu testemunho. Santa Irene é modelo daquele que cuida do mortalmente ferido, muitas vezes às custas da sua segurança e da sua reputação. Hoje eu peço a intercessão de ambos os santos, para que aqueles que estão mortalmente feridos em suas almas possam emergir das sombras para contemplar na luz a Face dAquele que diz: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância "(João 10:10).
(tradução Missa aos Domingos)

São Sebastião é o padroeiro da minha cidade natal e de uma das paróquias que frequento. Na sexta feira passada ouvi um foguetório no início da noite. Olhando de que lado vinha, me deu o estalo: é da Igreja de São Sebastião, pois hoje é dia 20!

A meditação acima ajuda a entender que o sermão da Missa não precisa ser longo para ser profundo e tocante. Aliás, os pregadores não precisam ser sempre originais. Comentando-se um texto de terceiro pode se levar uma boa mensagem para os ouvintes. Que é o que acabo de procurar fazer...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Ombudsman nas paróquias? (2)


Esse blog pretende ser um local de observações sobre as Missas que assistimos, já que as paróquias não costumam ter um canal para receber sugestões.

Li em blogs do exterior vários párocos coincidindo em uma reclamação idêntica: ao saírem da Missa deparam-se indefectivelmente com uma senhora usando luvas (ainda não desapareceram em outros países!) e bolsa pendurada no braço que eles chamam de A RECLAMADORA. E se preparam para ouvir uma sugestão ou queixa sobre os cânticos, o sermão, a leitora, a temperatura da igreja ou o que for.

Fiquei perplexo com o contraste, pois acho que em nossas terras o hábito de fazer queixas ou sugestões é raro. Ou ainda não descobri os canais competentes. Por outro lado, convém ver as coisas pelo lado positivo: tive a oportunidade de criar esse blog!

Fica no ar a pergunta: qual o melhor modo de ouvir o povo de Deus? Que por certo tem coisas úteis a sugerir para as paróquias que frequentam. Descartando as senhoras de luvas, poderia ser: caixa de sugestões, ombudsman, endereço específico de email ou outra alternativa que não imaginei.

Isso exigiria talvez uma hora por semana de alguém que encaminharia as sugestões e daria retorno aos remetentes. Imagino que as equipes paroquiais já tenham uma boa carga de trabalho, mas seria um tempo bem investido para todos se sentirem ouvidos, envolvidos com os assuntos da comunidade e mais responsáveis pelo andamento da paróquia. Afinal não é justo que nós - fiéis comuns, soldados rasos, arraia miuda, base da pirâmide, em resumo: povão - só sejamos lembrados na hora da rifa para a reforma do salão paroquial, certo?

Falou o Papa: Só assim posso celebrar convenientemente a Eucaristia

A incredulidade de São Tomé, Caravaggio, 1601
Alguns discursos do Papa podem ser difíceis de entender, mas há muitos que são tão claros! Veja essas doze linhas:
"Deus é, sem dúvida, omnipresente; mas a presença corpórea de Cristo ressuscitado constitui algo mais, constitui algo de novo. O Ressuscitado entra no meio de nós. E então não podemos senão dizer como o apóstolo Tomé: Meu Senhor e meu Deus! A adoração é, antes de mais nada, um acto de fé; o acto de fé como tal. Deus não é uma hipótese qualquer, possível ou impossível, sobre a origem do universo. Ele está ali. E se Ele está presente, prostro-me diante d’Ele. Então a razão, a vontade e o coração abrem-se para Ele, a partir d’Ele. Em Cristo ressuscitado, está presente Deus feito homem, que sofreu por nós porque nos ama. Entramos nesta certeza do amor corpóreo de Deus por nós, e fazemo-lo amando com Ele. Isto é adoração, e isto confere depois um cunho próprio à minha vida. E só assim posso celebrar convenientemente a Eucaristia..." (encontro com a Cúria Romana para os votos de Natal, 22/12/11)
Claro e profundo, piedoso e teológico. Fica a dica para um bom sermão de domingo: cinco a dez minutos comentando esse precioso texto que fala de fé, Ressurreição, Redenção, adoração, Eucaristia...

Se o Papa diz "só assim posso celebrar convenientemente a Eucaristia..." fica para nós a lição que a atitude de adoração é condição para assistirmos com proveito à celebração da Missa. É comum que vários aspectos secundários da Missa (ceia fraterna, reunião da comunidade, celebração da palavra, etc.) sejam mais lembrados do que a essência desse sacramento: a Eucaristia é a renovação incruenta do sacrifício de Cristo no Calvário. E se nos vemos cada domingo diante dessa renovação do sacrifício da Cruz, entendemos bem o que diz o Papa sobre a adoração como condição para assistirmos convenientemente.      
Entendo que a principal missão da liturgia seja fomentar essa atitude de adoração, através dos cânticos, dos gestos do Padre, da atitude dos fiéis, do cerimonial, dos cuidades com as rubricas, etc. A liturgia deve nos inspirar a olhar para o altar, enxergar o sacrifício da Cristo e exclamar como Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!" Mas isso já é assunto para outros posts.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Tire suas mão do meu Papa


O interessante e combativo blog O Possível e o Extraordinário, relacionado na lista de favoritos logo à sua direita, traz um interessante post entitulado Tire suas mãos do meu Papa. Vale a pena conferir e texto integral. Recolho apenas um trecho:
"...E agora pela internet! Não existe um “grupo pequeno responsável pela autoria” desses movimentos pelas redes sociais. A verdade é que as pessoas, pelas redes, agora têm um espaço que lhes permite maior expressão.
Um caminho “não-institucional” eu diria. Imagine uma manifestação dessa numa BOA paróquia… Primeiro o padre quereria saber o que pensa o pároco, que quereria saber o que pensa o bispo, que quereria saber o que pensa a CNBB, que quereria saber o que pensa o PT. Ou seja: daria em nada." 
Ainda não demos o valor devido à internet como meio de expressão do católico comum, soldado raso. Já dediquei um post a esse tema: O cristão unido pela internet jamais será vencido. Se você não leu, ânimo, são só 4 parágrafos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Afinal qual é o modelo?


O post anterior falava da compreensão com o pregadores. Afinal, criticar é fácil, pregar bem é difícil.

Imagino que os sacerdotes procurem seguir um modelo. Idealmente, o próprio Jesus Cristo. Ou um modelo mais acessível: o Cura D'Ars, um padre que admiram, o protagonista de uma biografia que leram...

Se existem tantos modelos a serem seguidos, não entendo porque certos padres parecem ese inspirar nos pastores evangélicos que vemos na televisão: as inflexões de voz, certas interjeições, a gesticulação, a mímica facial, a movimentação ao falar. Triste estereótipo a ser imitado! Querem ser bons "comunicadores" (seja lá o que signifique isso), o que é diferente de ser um bom pregador, que toca a alma dos fiéis.

Em uma das igrejas em que assisto Missa, o padre caminha durante o sermão não só pelo altar, mas pelo corredor central até o final da nave e volta. Deviam voltar a estar de moda aqueles púlpitos antigos tipo uma cestinha no alto da parede, acessível por uma escada...

E nunca é demais insistir num ponto básico da pregação: a duração do sermão. Lembrando Pascal: "Não tive tempo de escrever uma carta curta, então escrevi uma longa". Há honrosas exceções, mas muitos dos sermões longos são uma falta de consideração com os fiéis. Talvez alguns padres achem que um sermão breve seria encarado como uma indelicadeza ou falta de interesse, mas ocorre exatamente o oposto.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ainda sobre sermões


Tradução de um interessante post do blog do Father Z:

Um leitor do blog levantou a seguinte questão sobre sermões ruins:
"De vez em quando é um traste, não só teologicamente fraco, mas transforma o que deveria ser um banquete num bife esturricado. Como devo reagir?"
Você quer saber o que fazer?
Ajoelhe-se e reze pelo padre que pregou.
Faça jejum.
Faça penitência pelas intenções do padre.
Esteja feliz por ter um padre quando muitos - muitos - não têm.
Isso é o que você deve fazer.
E se tiver ocasião de oferecer-lhe um incentivo ou uma opinião, faça-o de um modo cordial e gentil.
E pense na possibilidade de beijar a mão do padre que consagra a Eucaristia, perdoa seus pecados e com unção concede a remissão da pena temporal devida pelo pecado quando você está às portas da morte.
Após isso, você quer saber o que fazer?
Ajoelhe e reze pedindo mais sacerdotes. Reze por todos os sacerdotes e bispos e seminaristas também. Peça que os jovens respondam à vocação para o sacerdócio.
Faça mais jejum.
Faça mais penitência por esses homens e por vocações.
E lembre-se de como você tem sorte de ter um padre quando muitos - muitos - não têm.
Isso é o que você deve fazer.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Por onde andam os ascetas?

São João Maria Batista Vianney, o Cura D'Ars, padroeiro dos sacerdotes

O Cura D'Ars era um grande pregador, vinha gente de toda a França para ouví-lo e para se confessar com ele. Não porque fosse especialmente culto. Sua inteligência era apenas mediana e teve imensa dificuldade com os estudos no seminário, especialmente com o Latim. Mas era um asceta (pessoa que leva uma vida contemplativa e pratica a mortificação dos sentidos).

Nos sermões que ouvimos nas Missas que impressão fica do sacerdote? Que é um asceta que nos arrasta e contagia com suas palavras? 

Com frequência temos que nos contentar com uma mensagem superficial, simplória. Parece que os sacerdotes querem apenas ser simpáticos, agradáveis e gentis, que buscam uma popularidade cômoda. Às vezes, nem isso: se contentam com ser popularescos, bonachões ou até vulgares.

Por onde andam os ascetas? Qualquer informação, encaminhar aos cuidados deste blog.

P.S. Após umas semanas de viagem, estou recomeçando a postar diariamente.