"São Sebastião cuidado por Santa Irene" |
Deixados para morrer
Há sofrimentos mortais dos quais não se espera que os seres humanos se recuperem. Há torturadores da alma que deixam suas vítimas para morrer, certos de que não irão recuperar suas forças e reviver. Há pessoas que, tendo sofrido as agressões cruéis dos malfeitores, surpreendem aqueles que os conhecem, por continuar a viver e dar testemunho do amor de Cristo.
São Sebastião, Mártir
Penso hoje no soldado cristão São Sebastião, condenado à morte por confortar cristãos perseguidos; atado a uma árvore, crivado de flechas e deixado para morrer. E estou pensando em Santa Irene, esposa de São Castulo, que buscou São Sebastião e lavou suas feridas, aplicando bálsamos e medicamentos, até que ele recuperou as forças e foi à presença de Diocleciano para dar testemunho de Cristo.
A criança objeto de abuso sexual
Penso hoje na criança objeto de abuso sexual. Tendo sua inocência roubada; tendo que suportar um turbilhão de emoções impossíveis de serem decifradas; tendo perdido todo o sentido de segurança e proteção; e presa a um silêncio carregado de medo, são pequenas as chances de que essa criança chegue a emergir das sombras e a viver plenamente a vida a que estava destinada a viver.
A esposa espancada
Penso hoje na mulher que, depois de ter se entregado a um homem em casamento, descobre que ele é dominado por uma fúria incontrolável. Ela sofre violência nas mãos do homem que se comprometeu a acolhê-la com carinho e protegê-la. São pequenas as chances de que essa mulher chegue a emergir das sombras e a recuperar a capacidade de amar novamente e de confiar.
O Sacerdote não perdoado
Estou pensando hoje no homem, no sacerdote, que, depois de ter empenhado sua vida, suas energias e tudo o mais na Igreja, Corpo e Esposa de Cristo, vê-se acusado de uma fraqueza, de um pecado ou de um crime e, em seguida, completamente abandonado, deixado de lado e declarado intocável por aqueles que professam estar a serviço do Salvador chio de misericórdia. São pequenas as chances de que esse sacerdote chegue a emergir das sombras e a encontrar arrependimento, cura e reconciliação no coração da Igreja.
Mas eles não morrem
Estes são apenas três exemplos das inúmeras violências, mortais para alma, das quais os agressores se afastam, deixando suas vítimas para morrer. Mas as vítimas não morrem. Elas sofrem. Elas sangram. Suas feridas infeccionam e até gangrenam, mas elas não morrem.
Santa Irene, a que cuidou
De alguma forma essas vítimas - muitas vezes pelos cuidados de alguém mortalmente ferido como elas próprias, mas que voltou à vida, vida em abundância - podem se recuperar e às vezes efetivamente se recuperam e, em certo sentido, voltam da morte. Alguém pára para cuidar de suas feridas, desinfetá-las e atá-las. "Um samaritano," diz o Senhor, "que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele."Lucas 10:33-34
Na Luz
São Sebastião é símbolo de alma deixada para morrer, mas trazida de volta à vida para dar a Cristo o seu testemunho. Santa Irene é modelo daquele que cuida do mortalmente ferido, muitas vezes às custas da sua segurança e da sua reputação. Hoje eu peço a intercessão de ambos os santos, para que aqueles que estão mortalmente feridos em suas almas possam emergir das sombras para contemplar na luz a Face dAquele que diz: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância "(João 10:10).
(tradução Missa aos Domingos)
São Sebastião é o padroeiro da minha cidade natal e de uma das paróquias que frequento. Na sexta feira passada ouvi um foguetório no início da noite. Olhando de que lado vinha, me deu o estalo: é da Igreja de São Sebastião, pois hoje é dia 20!
A meditação acima ajuda a entender que o sermão da Missa não precisa ser longo para ser profundo e tocante. Aliás, os pregadores não precisam ser sempre originais. Comentando-se um texto de terceiro pode se levar uma boa mensagem para os ouvintes. Que é o que acabo de procurar fazer...
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