domingo, 29 de abril de 2012

Quanto é razoável que demore a Missa? (1)


No um post de anteontem O horário de Missas que é um sonho de consumo, mencionei uma paróquia com Missas de meia em meia hora nos dias de semana. Um leitor indagou nos comentários "é correto, liturgicamente falando, haver missa que dure apenas meia hora? Não é um tempo curto demais?"

Abrindo parênteses: qualquer blogueiro acha fantástico que comentem os posts. Fico com certa inveja quando entro em blogs repletos de comentários e no meu só um punhadinho. Fica aqui lançada a campanha faça um blogueiro feliz: comentem os posts à vontade! 

Volto ao tema. Minha tia-avó de mais de 90 anos até pouco tempo atrás assistia Missa todo dia! Imagino que ela acharia ótimo uma Missa diária de uma hora (ou até mais). 

Se um cidadão entra todo dia um minuto numa igreja para rezar quando está a caminho do trabalho, já está fazendo uma coisa muito boa. Se ele se propõe a fazer mais, assistindo Missa alguns dias durante a semana, de manhãzinha ou na hora do almoço, uma celebração de uma hora provavelmente seria inviável. 

Já assisti várias Missas dominicais, celebradas normalmente, de 40 minutos. As Missas de dia de semana já são mais curtas e, se não têm sermão ou cânticos (o que é permitido e normal), podem durar uns 20 ou 25 minutos. Se uma paróquia oferece cerimônias mais breves para atender quem tem menos tempo disponível, acho ótimo. 

Minha impressão, de modo geral, é que as cerimônias tendem a ser arrastadas e desnecessariamente longas. Quem vai à Missa no domingo às 7 ou 8h da noite, por exemplo, já está cansado, e talvez fazendo um sacrifício para cumprir o preceito. Uma cerimônia de 1 hora e 15 minutos seria um exagero. 

Esse assunto está nos levando longe. Continuarei em outro post!

Guerra cultural em curso


Na última edição de semanário inglês The Catholic Herald, cinco notícias (!!!) davam uma noção da guerra cultural que se aproxima.

No Brasil não a situação não atingiu esse ponto, mas estamos a caminho. Às vezes consideramos que certos debates são apenas questões conceituais ou discussões jurídicas ou disputas parlamentares, até que chega o dia em que a coisa aperta para o nosso lado.

Seguem os tópicos:

1) Neil Addison, diretor do Centro Jurídico Thomas More, disse que as garantias do primeiro-ministro David Cameron de que a Igreja não seria obrigada a realizar casamento religioso para homossexuais são inúteis. Duas decisões do Tribunal Europeu de Direitos Humanos mostram que o governo estaria agindo ilegalmente se legalizasse o matrimônio civil de pessoas do mesmo sexo sem permitir que seja realizado também no religioso. Isso significa que, se o projeto do governo de redefinir o matrimônio para incluir casais do mesmo sexo for aprovado, a Igreja Católica pode ser processada segundo a legislação que prevê igualdade de direitos .

2) Os médicos que se recusem a realizar operações de mudança de sexo ou a prescrever anticoncepcionais a mulheres solteiras podem ser cassados pelo Conselho de Medicina inglês. As novas normas da entidade de classe proíbem que os médicos aleguem objeção de consciência para se negar a realizar essas operações e estipulam que se um médico receita anticoncepcionais para mulheres casadas não pode se negar a prescrevê-los para solteiras.

3) Organizações católicas reagiram com consternação após o governo recuar nas medidas para limitar o acesso à pornografia na internet. Um relatório do parlamento inglês acaba de revelar que quatro em cada cinco adolescentes de 16 anos acessa regularmente pornografia e que um terço das crianças de 10 anos já acessou. Danny Sullivan, presidente de uma entidade católica para o cuidado da infância, afirmou: "É um direito fundamental das crianças serem protegidas pelos adultos na sua comunidade."

4) Duas obstetras católicas entram com recurso contra decisão legal que as obrigam a supervisionar equipes que realizam abortos. Apesar de terem o direito de alegar objeção de consciência para não realizarem diretamente, elas lutam pelo o direito de se recusar a supervisionar o pessoal que participa em abortos.

5) A organização católica Cavaleiros de Colombo realizou nessa semana sua reunião anual em Washington. Seu líder, Carl Anderson, afirmou que "em nenhum momento da vidas dos que aqui estamos presentes a liberdade religiosa do povo americano esteve tão ameaçada como agora"

sábado, 28 de abril de 2012

A tradição e o futuro, sinais dos tempos


Entrevista com o Pe. Joseph Kramer, pároco da Igreja da Santíssima Trindade dos Peregrinos. É a única paróquia em Roma onde se celebra exclusivamente a Missa Tridentina.

O vídeo foi produzido pela Catholic News Service, que é a agência de notícias da Conferência dos Bispos dos Estados Unidos. No site da agência você encontra uma matéria em inglês que acompanha essa entrevista: Nova geração, antigo rito: o duradouro apelo da Tradição católica.

dica: Father Z

O Papa: veja a análise de quem sabe tudo


Novamente um texto inspirado de La cigüeña de la torre. Seguem trechos (vale a penar ler a íntegra).

Um Papa extraordinário

Estamos vivendo uns dias eclesiais alucinantes. (...) Parece que decidiram pegar o touro a unha, finalmente, e que estão fazendo horas extras. Bendito seja Deus. (... cita notícias da Áustria, Argentina, Irlanda, Espanha, Estados Unidos, dos lefevristas, etc.)

Não é pouco para um mês. Eu nunca teria ousado sonhar com tantas boas notícias. (...) Um Papa notável, com seus 85 anos, está dando mostras de uma vitalidade e uma energia quase impossíveis de se imaginar. Com a aparência tão débil, tão frágil, tão humilde, com muita sabedoria tomou o leme da barca da Igreja açoitada pela tempestade com uma força que não é própria de idades avançadas. Com a força do Espírito Santo.

João Paulo II certamente preparou o caminho. E também seu sucessor. Mas o que estamos vendo com a atual Pontífice, de quem se esperava um curto pontificado de transição, supera todas as expectativas. Mesmo as mais otimistas. Começa seu sétimo ano à frente da Igreja. Havia quem pensasse que não chegaria a tantos. Hoje muitos poderiam evocar a passagem evangélica: É bom estarmos aqui! Façamos três tendas...

Santo Padre, os católicos gostaríamos de fazer um bela tenda para que estivesses sempre conosco. Como estamos bem contigo! Uma tenda que te proteja de tantos ataques dos inimigos de Deus e da Igreja, na qual te sintas feliz rodeado do amor de teus filhos. Parecia impossível fazer-se querer depois do fenômeno de João Paulo II. Que cativou o mundo católico. O Papa Magno. Morto em odor de santidade e de multidões. O sarrafo ficou a uma altura inatingível. Ainda mais para um Papa ancião, de passo leve e sorriso tímido. Uma leve brisa após um ciclone devorador. Um ator que enchia o palco e tinha consciência disso, e um sucessor que parecia se encolher quando se abriam as cortinas. Depois da Nona Sinfonia de Beethoven concluída com o coro apoteótico, se dizia que não haveria músico que ousasse ser interpretado por qualquer orquestra. Pois veio Mozart e com ele a harmonia delicada que também entusiasmou um público que pensava que o concerto anterior era insuperável.

Tenho certeza que aquele Santo súbito que a multidão proferiu como que inspirada por uma força sobrenatural enchendo a praça de São Pedro e que o mundo inteiro escutou vai se repetir um dia, Deus queira que ainda longínquo.

Por que a música católica está uma bagunça?



O sempre gabaritado Salvem a Liturgia traz um ótimo post que indaga por que a música católica está uma bagunça? 

É uma tradução comentada do blog americano The Chant Café. Vale a pena conferir.

Imagem da Missa (20): Assistindo Missa, Rocafort



Óleo de autoria do pintor espanhol José Benlliure Gil, com o título "Assistindo Missa, Rocafort". O próprio Benlliure doou o quadro em 1932 ao Museu de Belas Artes de Valencia, Espanha, em cujo acervo permanece (veja no Google Maps).

Depois de sete anos. O segredo do Papa Ratzinger


Íntegra do belíssimo artigo de Sandro Magister:

Ninguém disse, há uma semana, nas muitas homenagens por ocasião do sétimo aniversário de Bento XVI como papa: o elemento que melhor revelou o profundo significado do seu pontificado foi um temporal.

Foi uma noite tórrida em Madrid, em agosto de 2011. Diante do Papa, na esplanada, um milhão de jovens, com idade média de 22 anos, desconhecidos. De repente, um turbilhão de água, raios e vento se abate sobre todos, sem possibilidade de proteção. Voam pelos ares holofotes, cartazes, e o Papa também se molha. Mas ele permanece no lugar, diante da alegria explosiva dos jovens pelo inesperado espetáculo da natureza.

Quando a chuva pára, o papa coloca de lado o discurso escrito e dirige aos jovens umas breves palavras. Convida a olhar não para ele, mas para Jesus que está presente na hóstia consagrada sobre o altar. Ajoelha-se em silêncio e em adoração. O mesmo ocorre na esplanada: todos se ajoelham no chão molhado, em meio a um silêncio absoluto durante uma boa meia hora.

Não foi a primeira vez que Bento XVI se ajoelhou diante da hóstia consagrada em longo silêncio. Já o tinha feito em Colônia, em 2005, no início do papado, também em vigília noturna com milhares de jovens, para assombro de todos.

Ao avaliar este papado, poucos perceberam a ousadia desses gestos contra a corrente. Mas, quando Bento XVI os realiza e os explica, o faz com a atitude gentil de quem não quer inventar nada, mas simplesmente ir ao âmago da aventura humana e do mistério cristão.

Também Rafael, há cinco séculos, no sublime afresco das Salas Vaticanas "Disputa do Santíssimo Sacramento (imagem acima, detalhe abaixo), colocou a hóstia consagrada no centro de tudo, sobre o altar de uma grandiosa liturgia cósmica que vê interagirem o Pai, o Filho, o Espírito Santo, a Igreja terrena e celestial, o tempo e a eternidade.
Quando Bento XVI convocou seu primeiro sínodo em 2005, o dedicou precisamente à Eucaristia, e quis que se projetasse esse afresco de Rafael durante todo o encontro, numa tela colocada diante dos bispos.

De Joseph Ratzinger se discutiram as exposições eruditas na Universidade de Ratisbona e no Collège des Bernardins em Paris, no Westminster Hall em Londres e no Parlamento Federal em Berlim. Mas um dia se descobrirá que o maior distintivo deste Papa são as homilias, como o foram para São Leão Magno, o Papa que deteve a invasão de Átila.

As homilias são as palavras de Bento XVI que não se têm em conta. São pronunciadas durante a Missa, perigosamente perto desse Jesus que está vivo e presente nas aparências do pão e do vinho, desse Jesus, que - ele prega incansavelmente - é o mesmo que explicou as Escrituras para os discípulos de Emaús, de forma tão semelhante aos homens extraviados de hoje, e que se revelou ao partir o pão, como na pintura de Caravaggio que está na National Gallery em Londres, e que desaparece quando é reconhecido, porque a fé é assim, não é nunca uma visão geometricamente cumprida, mas é uma disputa inesgotável de liberdade e de graça.

À fé nula ou escassa de tantos hoje, em Missas trivialmente reduzidas a abraços de paz e assembéias solidárias, o Papa Bento XVI oferece a fé substancial em um Deus que se faz realmente próximo, que ama e perdoa, que se faz tocar e comer.

Esta era também a fé dos primeiros cristãos. Bento XVI o recordou no Angelus de dois domingos atrás. Disse que o nascimento do domingo como dia do Senhor foi um gesto de ousadia revolucionária fantástica, precisamente porque fantástico e comovedor foi o acontecimento que o originou: a ressurreição de Jesus e suas aparições subseqüentes, na condição de ressuscitado, entre os discípulos cada "primeiro dia da semana", ou seja, o dia do início da criação.

O pão terreno que se converte em comunhão com Deus, disse o Papa em uma homilia, quer ser o início da transformação do mundo, para que se converta num mundo de ressurreição, num mundo de Deus.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O novo maoismo que sufoca a Igreja e a China

Joseph Huang Bingzhang, ordenado ilegalmente
bispo de Shantou e excomungado pelo Vaticano
O novo maoismo que sufoca a Igreja e a China

(AsiaNews) A ordenação episcopal de hoje em Changsha mostra que ainda está vivo o maoismo na China. Por várias semanas os jornais veicularam histórias sobre a demissão de Bo Xilai, o ex-secretário do Partido Comunista em Chongqing, famoso por promover um renascimento de canções maoístas e de leituras do Grande Timoneiro, por uma campanha implacável contra as máfias e por uma corrupção descarada.

(...) o Primeiro-Ministro Wen Jiabao condenou o retorno do maoísmo e uma nova Revolução Cultural, Bo Xilai foi destituído e processado criminalmente.

Na mesma ocasião, Wen Jiabao prometeu reformas profundas e muitos esperavam mais liberdade. Em vez disso, um maoismo mais sutil, mas igualmente totalitário, continua a permear a sociedade chinesa (...). Nas questões religiosas muitos vêem o dedo de Zhu Weiqun, vice-presidente da Frente Unida, famoso por seu discurso contra a religião e as conversões religiosas dos membros do partido (...) Graças às suas políticas (...) comunidades religiosas sofrem intermináveis controles e se busca a eliminação dos grupos subterrâneos (*), após um processo de "lavagem cerebral".

Há meses os grupos de padres e bispos da igreja subterrânea são controlados, isolados e submetidos a sessões de doutrinação sobre os benefícios das políticas religiosas do Partido.

O maoísmo dessas políticas é também evidente na ordenação de bispos: cada novo bispo deve ser um instrumento do Partido e da Igreja Católica Oficial. Cada ordenação se torna uma afirmação desta política e o bispo é dotado de salários e honrarias e transformado numa espécie de funcionário do governo.

São escolhidos de acordo com as conveniências do Partido e não para o cuidado pastoral dos fiéis ou de acordo com o Papa. Foi o que ocorreu nas recentes ordenações em Leshan e Shantou, com candidatos escolhidos pelo governo e sem mandato pontifício. E mesmo quando são candidatos escolhidos pelo papa, o partido obriga o neo-consagrando a suportar a presença de bispos excomungados e ilegítimos, como foi o caso no último dia 19 de março, em Nanchong e Changsha. Os dois candidatos são bons pastores, mas foi o governo que determinou quem participaria ou não da consagração episcopal.

Está claro que é o partido que pretender deter a chancela oficial da ortodoxia eclesial em lugar do Papa. Este cesaropapismo chinês é tão tosco quanto perigoso para a Igreja e para a China.

A intromissão do Partido em ritos e ordenações, candidatos e bispos consagrados é um sinal da mentalidade estreita dos líderes do partido, baseada em padrões antigos, superados pela história. A segunda maior economia mundial, que está se preparando para ir à Lua, ainda pensa como as monarquias absolutistas ocidentais do séc. XVII.

As ordenações episcopais manchadas pela presença de bispos ilegítimos dificultam o trabalho da Igreja e perturbam os fiéis, minando a unidade entre as comunidades. Mas também produzem sentimentos hostis a um estado totalitário e, com isso, aumentam a oposição e também a possibilidade de tumultos. Nos últimos meses, durante as detenções de bispos para obrigá-los a participar de ordenações ilegítimas, houve comunidades que se rebelaram contra a polícia e organizaram manifestações. Ao mesmo tempo em que  presidente Hu Jintao lançava o seu apelo para uma "sociedade harmoniosa".

Este ano o partido está planejando mais 5 ou 6 ordenações episcopais ilegítimas. Não seria preferível para Pequim deixar o Papa ser o Papa e o governo chinês ser o governo, permitindo a liberdade em questões religiosas? Desta forma, poderia ganhar a confiança e a simpatia dos fiéis e dos cristãos do mundo inteiro. E a comunidade internacional e o mundo dos negócios seriam capazes de respirar: onde não há liberdade religiosa, as outras liberdades, como a econômica, são campos minados.

(*) As igrejas subterrâneas são as igrejas clandestinas que não concordaram em serem subjugadas e unidas às Igrejas nacionais, criadas na China no início do governo comunista. Estas Igrejas nacionais, controladas pelas Associações Patrióticas (ex: Associação Patriótica Católica Chinesa), serviam para o Governo chinês supervisionar e controlar todos os aspectos da vida religiosa na China, incluindo a nomeação bispos ou outros ministros sagrados. Por causa da sua oposição à política repressiva comunista, muitos membros destas Igrejas proibidas pelo Governo são perseguidos e forçados a se juntarem às Igrejas nacionais. 

Missal Romano: a quantas anda a nova edição em português?


Um post de fevereiro comentava que a nova edição do Missal em português vai demorar.

Nesses últimos dias a questão da versão em alemão do pro multis está dando o que falar.

Convém então atualizar a questão do andamento da nova edição em português, com notícia da Gaudium Press (negritos meus):
Tradução do Missal Romano está sendo minuciosamente avaliada
Na 50ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, que acontece em Aparecida (SP), os bispos estão tratando, entre outros temas, da tradução do Missal Romano. 
Segundo o Arcebispo de Juiz de Fora (MG), Dom Gil Antônio Moreira, em todas Assembleias, a liturgia recebe um destaque especial. "O que estamos vendo é uma tradução mais adequada das orações que estão em latim, sejam as orações da Missa, sejam as orações também eucarísticas que são fixas e esta tradução é importante para que haja sempre uma melhor compreensão e fidelidade ao texto original". 
Esta tradução estão sendo feita com muito cuidado e zelo para que depois seja encaminhada à Santa Sé para sua aprovação final. Dom Gil afirma que o fato de a tradução estar sendo discutida há algum tempo, é o fato de que a Igreja é muito minunciosa "temos todo o cuidado, não palavra por palavra, mas vírgula por vírgula". 
Este cuidado todo, segundo o Arcebispo de Juiz de Fora, é porque "a liturgia é o ápice, o ponto alto da comunidade com Deus e por isso, a Igreja tem de ser muito cuidadosa neste aspecto para que nada saia errado, para que não haja nenhum sinal, nenhuma palavra, nenhuma preposição que possa causar dificuldade no entendimento naquilo que se reza, que é a expressão da fé". 
Por este motivo, segundo Dom Gil, é que esta tradução não é um texto fácil de ser concluído mas, "esperamos que seja finalizado em breve, mas eu não tenho a ilusão de saia de hoje para amanhã".
PS. O conceituado Salvem a Liturgia comentou positivamente a notícia acima e considerou as novidades animadoras

Ah, se eu fosse o Papa...


Em um post anterior (Que parte do "pro multis" vocês não entenderam?) comentei a extensa carta (5 páginas) do Papa aos bispos alemães sobre a questão do pro multis. A versão em português da carta é o primeiro tópico do widget do Vaticano, porém o link não está ativo :-( 

O site do Vaticano só traz o texto em alemão, mas você pode encontrar uma tradução em português no Fratres in Unum.

Um leitor do Father Z sugeriu um texto alternativo mais breve para a carta papal:
Venerados irmãos na plenitude do Sacerdócio, saudações e a Bênção Apostólica!

Como todos nós buscamos ser dignos sucessores de Pedro e dos Apóstolos depois de Pentecostes e não de Judas nos dias que antecederam o Sacrifício do Calvário, somos obrigados, sob pena de condenação eterna, a servir ao Senhor na Igreja que Ele próprio consagrou com o seu Preciosíssimo Sangue, derramado por muitos em expiação pelos nossos pecados.

Se você não gosta da tradução nova e correta da fórmula da Consagração, resta-lhe a opção de usar na Missa a versão original em latim, como eu faço na maioria das vezes. Se você gosta muitíssimo da tradução antiga, incorreta e exegeticamente tola, pode pedir uma dispensa, que será estudada com a costumeira celeridade da Cúria Romana e submetida a mim logo que ocorra uma queda súbita de temperatura em um lugar cuja existência deve ser afirmada com mais freqüência por alguns de vocês, ao menos como um lembrete para si próprios. Nesse meio tempo, ou é latim ou é "por muitos".

Diga-se de passagem, eu nunca gastei tanto tempo e tantas palavras discutindo melhorias  ordenadas por mim há muuuito tempo atrás.

Venerados Irmãos, encontrem o que fazer antes de que eu comece a revisão de rotina nas sedes episcopais vacantes na Coréia do Norte, no Irã e em outros locais desejosos de aprender de vocês os caminhos da inculturação e da justiça social.

Com a bênção Pascal,
Genghis PP I
Em defesa do autor dessa versão alternativa, ele coloca um PS: "Graças a Deus há uma pessoa muito muito muito mais santa, sábia e paciente encarregada desses assuntos..."

Estreando o widget do Vaticano


Na coluna direita do blog passamos a ter agora um widget do Vaticano. Os principais e mais recentes tópicos do site vatican.va são atualizados automaticamente.

Muita coisa ainda não está em português, especialmente os vídeos, mas acho que é interessante dar uma explorada.

O que você achou? Vale a pena manter no blog? Deixe sua opinião nos comentários.

O horário de Missas que é um sonho de consumo


Basílica da Santíssima Trindade em Cracóvia, cidade em que João Paulo II foi Arcebispo:
10 Missas aos domingos
8 Missas nos dias de semana
Confissões diariamente das 8 às 20h
Atentem para o detalhe da duração das Missas: nos dias de semana de manhãzinha, Missa de meia em meia hora; aos domingos de manhã, Missa de uma em uma hora. Dá para perceber que você não vai ter que enfrentar cânticos ou sermões intermináveis. Mesmo aqueles que optarem pela Missa conventual no domingo (10:30h) não vão despender muito mais do que uma hora (a seguinte é às 12h).

Veja a igreja no Google Maps clicando aqui. Como se já não sobrassem qualidades, apreciem o interior:

Nave principal
Altar-mor
Dica: Father Z

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Imagem da Missa (19): Uma Missa no mar, 1793


Quadro do pintor Louis Deveau, intitulado "Uma Missa no mar, 1793". Retrata um período de perseguição religiosa, na qual o culto católico estava proibido -em plena Revolução Francesa-, de forma que tinha que ser realizado no mar ou oculto nos bosques. O autor realizou essa obra em 1864, setenta e um anos depois dos acontecimentos. Encontra-se no Museu de Belas Artes de Rennes, França (veja no Google Maps).

terça-feira, 24 de abril de 2012

Papa: que parte do "pro multis" vocês não entenderam?

Papa em Berlim, setembro de 2011
Íntegra do artigo do Vatican Insider (negritos e [comentários] meus):

O Papa enviou uma longa carta de cinco páginas aos bispos alemães para esclarecer uma antiga polêmica lingüística que surgiu a partir da reforma litúrgica prescrita pelo Concílio Vaticano II e da tradução dos Evangelhos para línguas vernáculas.

A carta assinada por Bento XVI em 14 de abril e publicada hoje (24 de abril) pela Conferência Episcopal Alemã se refere à tradução, repleta de implicações teológicas, das palavras de Jesus durante a Última Ceia. Seu próprio sacrifício, que em latim é pro multis, foi traduzido para o alemão como fuer alle (para todos) e não mais literalmente como fuer viele (para muitos). Antes da publicação, em países de língua alemã, da nova tradução do Livro de Hinos (Gotteslob), o Papa, que sempre prestou a máxima atenção para questões litúrgicas e para a correta interpretação do Concílio Vaticano II, sublinhou que esta tradução "é uma interpretação" coerente com "os princípios que guiaram as traduções dos livros litúrgicos para outras línguas modernas." No entanto, segundo Ratzinger, a tradução interpretativa além de um "certo limite" não se justifica para as Sagradas Escrituras e levou, em alguns casos, a "banalizações" que implicaram "uma autêntica perda de sentido."

"Pessoalmente, tornou-se cada vez mais claro para mim que a diretriz de usar uma equivalência estrutural em lugar da literal parecia ter os seus limites", explicou o Papa. "Como eu tenho que fazer orações litúrgicas em várias línguas, às vezes vejo que é difícil encontrar um elo entre as várias traduções e que mal se reconhece o texto original [em latim]", Bento XVI detalhou.

Como de costume em sua carta aos bispos alemães, o Papa menciona potenciais objeções dos destinatários: "Cristo não morreu por todos? A Igreja mudou o seu ensinamento? Tem capacidade para isso e pode fazê-lo? Essa reação procura destruir o legado do Concílio?" A resposta é negativa. 

Referindo-se à Instrução da Santa Sé Liturgiam authenticam de 2001, o Papa explicou que a fidelidade dos textos litúrgicos contemporâneos ao pro multis dos Evangelhos de Mateus e Marcos está vinculada à fidelidade da linguagem de Jesus ao capítulo 53 do Livro de Isaías (*). E não pode ser modificada de forma arbitrária.

(*) tomando sobre si os pecados de muitos homens (Isaías, 53, 12)

PS. Confira no post Nova edição do Missal em português vai demorar a quantas anda (ou hiberna) essa questão aqui na terrinha.

Sacramentos: me engana que eu gosto!


O blog espanhol  Cor ad cor loquitur traz um post interessante sobre a recepção dos sacramentos por quem não acredita no que recebe. Fala do Matrimônio, da Primeira Comunhão e do Batismo (nesses dois últimos, a falta de fé é dos pais).

Quando menciona o sacramento da Confirmação, aborda também a frequência à Missa dominical:
Quantas confirmação se administram a jovens que nem sequer são praticantes. Já presenciei isso em inúmeras ocasiões. O curso de Crisma é dado para jovens que não vão à igreja nem por descuido. 
Por exemplo, quando se confirmou meu segundo filho, ele era o único que assistia, e assiste, à Missa todos os domingos. Alguém poderia me dizer em que fé estavam sendo confirmados os outros? Alguém me pode dar uma única razão para que eu não ache que foi uma grande farsa? E tem mais, se eu fosse catequista de crismandos e não "conseguisse" que os garotos tivesses vontade de celebrar a sua fé, consideraria um fracasso a minha catequese. Coloquei o verbo conseguir entre aspas porque é óbvio que essa obra é do Espírito Santo e não do catequista. Porém o Espírito Santo nunca fracassa. É o homem, seja jovem ou ancião, quem fracassa ao não se deixar guiar por Deus.
A cultura do me engana que eu gosto é universal, mas cá nessas terras é vista com um carinho todo especial, mesmo nos meios eclesiásticos. Os catequistas fingem que ensinam, os crismandos fingem que aprendem, os pais, padrinhos e párocos fingem que estão diante de jovens de muita fé, todos se emocionam na Missa de Crisma... e a vida segue.

O termo inglês accountability carece de um bom correspondente em português. Uma espécie de cobrabilidade, possibilidade de cobrar alguém, de chamar à responsabilidade, de pedir contas. Se você tem um chefe exigente, sabe exatamente do que estou falando. Quem trabalha na casa da mãe joana terá mais dificuldade em entender.
Será também como um homem que, tendo de viajar, reuniu seus servos e lhes confiou seus bens (...) Muito tempo depois, voltou e pediu-lhes contas. (Mt. 25, 14 e 19) 
Ele chamou o administrador e lhe disse: Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração... (Lc, 16,2)
Há situações em que eu também me faço a mesma pergunta: alguém me pode dar uma única razão para que eu não ache que é uma grande farsa? E tenho a impressão de que em alguns meios eclesiásticos não são de bom tom perguntas do gênero, não cabe qualquer tipo de cobrabilidade, todos embarcam num me engana que eu gosto coletivo.

Voltando ao exemplo acima: se depois da crisma a grande maioria não está nem aí, não vai nunca à igreja e essa farsa se reproduz por décadas, qual é a pergunta de um milhão? Porque não há ninguém que reúna os responsáveis, dê um murro na mesa e diga: "Chega, não podemos mais continuar assim!" ?