terça-feira, 24 de abril de 2012

Papa: que parte do "pro multis" vocês não entenderam?

Papa em Berlim, setembro de 2011
Íntegra do artigo do Vatican Insider (negritos e [comentários] meus):

O Papa enviou uma longa carta de cinco páginas aos bispos alemães para esclarecer uma antiga polêmica lingüística que surgiu a partir da reforma litúrgica prescrita pelo Concílio Vaticano II e da tradução dos Evangelhos para línguas vernáculas.

A carta assinada por Bento XVI em 14 de abril e publicada hoje (24 de abril) pela Conferência Episcopal Alemã se refere à tradução, repleta de implicações teológicas, das palavras de Jesus durante a Última Ceia. Seu próprio sacrifício, que em latim é pro multis, foi traduzido para o alemão como fuer alle (para todos) e não mais literalmente como fuer viele (para muitos). Antes da publicação, em países de língua alemã, da nova tradução do Livro de Hinos (Gotteslob), o Papa, que sempre prestou a máxima atenção para questões litúrgicas e para a correta interpretação do Concílio Vaticano II, sublinhou que esta tradução "é uma interpretação" coerente com "os princípios que guiaram as traduções dos livros litúrgicos para outras línguas modernas." No entanto, segundo Ratzinger, a tradução interpretativa além de um "certo limite" não se justifica para as Sagradas Escrituras e levou, em alguns casos, a "banalizações" que implicaram "uma autêntica perda de sentido."

"Pessoalmente, tornou-se cada vez mais claro para mim que a diretriz de usar uma equivalência estrutural em lugar da literal parecia ter os seus limites", explicou o Papa. "Como eu tenho que fazer orações litúrgicas em várias línguas, às vezes vejo que é difícil encontrar um elo entre as várias traduções e que mal se reconhece o texto original [em latim]", Bento XVI detalhou.

Como de costume em sua carta aos bispos alemães, o Papa menciona potenciais objeções dos destinatários: "Cristo não morreu por todos? A Igreja mudou o seu ensinamento? Tem capacidade para isso e pode fazê-lo? Essa reação procura destruir o legado do Concílio?" A resposta é negativa. 

Referindo-se à Instrução da Santa Sé Liturgiam authenticam de 2001, o Papa explicou que a fidelidade dos textos litúrgicos contemporâneos ao pro multis dos Evangelhos de Mateus e Marcos está vinculada à fidelidade da linguagem de Jesus ao capítulo 53 do Livro de Isaías (*). E não pode ser modificada de forma arbitrária.

(*) tomando sobre si os pecados de muitos homens (Isaías, 53, 12)

PS. Confira no post Nova edição do Missal em português vai demorar a quantas anda (ou hiberna) essa questão aqui na terrinha.

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