segunda-feira, 9 de abril de 2012

Psiu! Está na hora da Consagração


Quando meu filho tinha uns 3 anos, já entendia que podia fazer comentários ou perguntas (em voz baixa) durante a Missa, menos na hora da Consagração. Eu nem precisava fazer psiu!; bastaram umas explicações prévias e ele já percebia que nos breves momentos de joelhos a coisa era mais séria.

Na Missa de hoje voltou a ocorrer algo que me deixa perplexo: o tecladista acha que pega bem fazer um solinho para acompanhar as palavras da Consagração.

Bach, Mozart, Beethoven, Schubert, Berlioz, Dvořák, Liszt, Verdi, Haydn, Salieri, Vivaldi, Gounod, Rossini e vários outros que compuseram para Missas, acharam melhor durante séculos envolver esse momento ápice da celebração com um respeitoso silêncio, até que finalmente alguém teve a ideia genial: por que não um solinho de improviso no teclado ou um dedilhadinho no violão, aquele dim-dom-dom tão inspirador... O mesmo fundo musical que já ouvimos (com boa dose de constrangimento) como acompanhamento de uma criança que gaguejava ao recitar Batatinha quando nasce na formatura da pré-escola.

Deixando de lado considerações musicais, a falta de senso de oportunidade é inacreditável. Imagine que no momento de maior dramaticidade e tensão no cinema ou no teatro algum simplório puxasse um sambinha para descontrair. Ou num velório. Ou na sala de espera de uma cirurgia delicada. Ou na coroação da Rainha da Inglaterra.

Lembro as palavras de um sermão sobre a Paixão que postei na semana passada:
O relato da Paixão mergulha-nos no silêncio. A Palavra foi silenciada. Somente um tolo se atreveria a falar. Talvez não devesse haver homilia hoje. Qualquer coisa menos do que a palavra do silêncio é indigna da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, qualquer coisa a mais é supérflua. Se sou tolo a ponto de pregar hoje, é por causa do silêncio: a palavra do silêncio, a palavra no silêncio.(...) Ao oferecer estas poucas palavras, meu único objetivo é guiá-lo ao porto da imensa e solene quietude.

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